
Foto: Thomas Eisenhuth/Uefa
A Europa conta com três torneios internacionais há três temporadas. Na América do Sul já são mais de 20 anos desde a última vez, à parte da Recopa
Hoje, a estrutura de disputas continentais entre os clubes da América do Sul é composta pela Copa Libertadores e pela Copa Sul-Americana, tendo ainda a Recopa, um confronto em ida e volta entre os últimos vencedores dos torneios principais. Ao todo, são 91 clubes diferentes em ação a cada temporada. Dito isso, haveria espaço para um terceiro torneio de fato? Para responder a esta pergunta, vale contextualizar a partir do maior centro do futebol.
E essa dúvida também pairou por lá por bastante tempo. A Uefa passou 14 anos tendo apenas a Champions League e a Europa League. A antiga Recopa Europeia, que lá era a taça envolvendo todos os campeões das copas nacionais, durou de 1961 a 1999, com a Lazio da Itália vencendo a última edição. O hiato a partir dali, comprimindo as participações internacionais dos clubes, foi absorvido, em parte, pela obscura Copa Intertoto, que durou até 2008, sem nunca prender a atenção dos torcedores. Ou alguém lembra dos títulos do PSG em 2001 e do Newcastle em 2006? Assim, a entidade decidiu reformular a sua estrutura de competições.
Uefa começou a pensar na ideia há 8 anos
Num congresso em 2015, a Uefa deu início aos estudos sobre um terceiro torneio, que deveria ter o mesmo perfil de “final única” em locais previamente definidos, como as competições mais famosas. Os estudos demoraram um pouco, mas o novo torneio foi confirmado em 2 de dezembro de 2018. Acredite se quiser, mas inicialmente o nome seria “Europa League 2”! Alguém na reunião deve ter criado coragem para levantar o dedo e comentar o quanto aquela denominação seria ruim. Obviamente, foi ouvido.
O nome oficial veio quase um ano depois, em 24 de setembro de 2019, com “Europa Conference League”, cuja primeira temporada ocorreu em 2021-22, com vitória da Roma-ITA sobre o Feyenoord-HOL. Na segunda edição, em 2022-23, o West Ham-ING bateu a Fiorentina-ITA. As cidades das duas próximas decisões já foram escolhidas, com jogos em Atentas, na Grécia (2023-24), e em Breslávia, na Polônia (2024-25). Ou seja, a Conference já está sendo tratada como uma certeza no reformado calendário da Uefa.
América não tem o “terceiro torneio” há mais de 20 anos
Vale pontuar que o recente torneio europeu conta com 178 clubes de 54 países filiados – seriam 55, mas a Rússia vem ficando de fora por causa da guerra na Ucrânia. É gente demais, saindo bastante do clubinho dos principais times, cada vez mais hegemônicos no topo da pirâmide. Voltando ao cenário na Conmebol, acredito que caberia, no mínimo, um estudo semelhante sobre a viabilidade sobre uma nova competição. Mesmo ciente de que a confederação sul-americana tem apenas dez países filiados, ainda há mercado a ser explorado.
A última vez em que isso aconteceu foi em 1999, com Libertadores, Copa Conmebol e Copa Mercosul – houve ainda a Copa Merconorte, que era um paralelo com os países do eixo norte do continente (onde sequer havia um bloco econômico chamado “Merconorte”). O esvaziamento da Copa Conmebol daquele ano, que gerou a sua descontinuidade, não pode ser algo determinante para uma avaliação em 2023. No próprio futebol brasileiro, o sistema de pontos corridos sequer existia. Só surgiria na Série A de 2003, completando 20 anos em implantação e já consolidado também na Série B. Sem contar que o dinheiro vem circulando numa escala ascendente.
Cenário econômico atual abre a possibilidade
O título da Sula desta temporada, por exemplo, poderá render R$ 41 milhões ao Fortaleza, somando todas as premiações na campanha. Esse valor era inimaginável para um torneio “secundário” há duas décadas. As aspas foram necessárias pois a Sula já nem é mais tratada assim, o que só mostra o campo aberto para abarcar mais clubes além em jogos além de suas fronteiras. Até aqui, o máximo abordado oficialmente pela Conmebol foi a criação de um “final four”, com semifinal e final, entre dois clubes da Conmebol e dois da Concacaf a partir de 2024. Este perfil se aproximaria mais da Recopa, com poucos jogos.
Considerando a abordagem deste texto, de uma disputa envolvendo mais times, não há sinalização, embora exista a expectativa de um torneio maior, também numa união com a irmã Concacaf, a partir de 2025. Por enquanto, só o zum-zum-zum. No entanto, se tem algo que a Conmebol gosta é de imitar a Uefa, caso da “final única”, com sucesso na Libertadores e problemas seguidos na Sul-Americana. Vendo por esse lado, a continuidade da Conference dificilmente será ignorada aqui. A conferir…