John Kennedy é um dos mais novos "Moleques de Xerém" revelados pelo Fluminense (Foto: Lucas Merçon/FFC)
Com um início conturbado de carreira, o jovem John Kennedy, de 21 anos, superou as dificuldades e escreveu seu nome na história do Fluminense
A história do título inédito da Libertadores conquistado pelo Fluminense, no último dia 4 de novembro, pode ser vista por diversos ângulos; mas quase todos se entrelaçam com o jovem John Kennedy. Responsável pelo gol da vitória, profetizado à beira do gramado pelo técnico Fernando Diniz, o atacante de 21 anos possui uma história de superação digna de roteiro cinematográfico.
O Click Esportivo traça, a seguir, o perfil da mais nova joia lapidada pelo Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras e sua breve, porém intensa, carreira, coroada recentemente com a convocação para a Seleção Brasileira Pré-Olímpica.
Você vai conhecer os detalhes da trajetória do “Moleque de Xerém”, desde a inspiração para o nome “importado”, os clubes por onde passou até engrenar como profissional e se consagrar entre os gigantes do futebol brasileiro.
Primeiros passos (e passes)
Nascido na comunidade de Novo Horizonte, na cidade mineira de Itaúna, a pouco mais de 70 quilômetros da capital Belo Horizonte, o “Presidente” veio ao mundo no dia 18 de maio de 2002. A sugestão do nome “importante” com o qual foi batizado veio do pai, que nutria um interesse pela história norte-americana e resolveu homenagear o ex-presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, que comandou o país entre 1961 e 1963.
Foi no Núcleo de Atenção à Criança (NAC), projeto da Prefeitura de Itaúna que oferece atividades no contraturno escolar, que o pequeno prodígio teve os primeiros contatos com o esporte. O primeiro uniforme vestido foi no futebol de salão, aos 7 anos de idade, defendendo as cores da escolinha Chute Certo no Circuito Itaunense de Futsal, sob o comando do professor Gilber Ramos.
A partir daí, foram diversas competições regionais disputadas, seja no campo ou na quadra, passando por equipes locais como Flamengo de Itaúna e Tropical Tênis Clube. Aos 11 anos, deixou sua cidade rumo a Belo Horizonte para atuar no América-MG, onde passou a viver numa casa mantida pelo clube. Porém, a passagem não se estendeu por causa de uma briga que teve com um colega, resultando no seu desligamento. Chegou a tentar integrar nas bases de Cruzeiro e Atlético-MG, mas acabou não tendo espaço.
Foi então no Fluminense que sua história se consolidou. Em 2017, após se destacar na Taça BH Sub-17 jogando pelo Social de São João del-Rei, último time mineiro em que atuou, John Kennedy foi convidado para uma seletiva no tricolor carioca. Com a boa performance demonstrada no teste, passou a treinar no CT Vale das Laranjeiras, no bairro de Xerém, no município de Duque de Caxias.
Chegada ao futebol profissional
Depois de quase três anos atuando na base do Fluminense, John Kennedy passou a ganhar as primeiras oportunidades entre a equipe profissional, ainda de maneira tímida. A consolidação entre o elenco principal do clube carioca, no entanto, viria em 2021, em mais um dos tantos jogos marcantes de sua carreira. Na ocasião, o atacante foi o grande destaque do clássico contra o Flamengo, pelo Brasileirão, marcando duas vezes na vitória por 3 x 1 dos tricolores.
Polêmicas e ida para a Ferroviária
Uma série de episódios de indisciplina, em maior ou menor grau, acabaram desgastando a relação de John Kennedy com dirigentes e comissão técnica do Fluminense. Entre os relatos, constam, por exemplo, atrasos em treinamentos e na saída para uma partida do Campeonato Carioca, ainda em 2021, e a ausência em algumas sessões de fisioterapia, depois de sofrer uma lesão jogando futebol com amigos durante as férias.
Em 2022, John Kennedy teve o carro apreendido pela polícia com tabletes de maconha, depois de ter emprestado o veículo para dois amigos. As situações fizeram o atleta voltar a treinar junto à equipe das categorias de base, disputando apenas a Copinha no ano de 2022. No início de 2023, o jogador foi emprestado para a Ferroviária, onde fez uma excelente passagem, apesar do rebaixamento da equipe, tornando-se artilheiro do clube no Paulistão daquele ano, com 6 gols em 11 jogos.
Retorno e ‘Glória Eterna’ tricolor
A brilhante atuação na Ferroviária foi o pretexto que bastava para o retorno ao Fluminense de Fernando Diniz. “É um grande talento e mais um daqueles jogadores, que, por trás, tem uma história de vida que, no futebol, ao invés da gente acolher a pessoa como um todo, a gente acolhe só o jogador. Essa é uma falha gigantesca que tem no futebol brasileiro”, afirmou o treinador em uma coletiva antes do empréstimo de John Kennedy.
De volta ao elenco principal, o novo camisa 9 se tornou substituto direto de Germán Cano, por vezes dividindo a titularidade com o craque argentino. Na Libertadores, foco principal do Fluminense na temporada, em busca do primeiro título internacional para a galeria, o jovem foi mais um vez decisivo. John Kennedy marcou em todos os confrontos da fase eliminatória: nas oitavas, contra o Argentinos Juniors; nas quartas, contra o Olimpia; e nas semifinais, contra o Internacional.
VEEEEEEEEENCEEEE O FLUMINEEEEENSEEEEEEEEE! SOMOS CAMPEÕES DA AMÉRICA! GOL DE CANO NO TEMPO NORMAL, GOL DO HERÓI JOHN KENNEDY NA PRORROGAÇÃO E UM FINAL ÉPICO! O FLUMINENSE É CAMPEÃO DA @LIBERTADORESBR! 🏆 pic.twitter.com/VFzaakkZuT
— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) November 4, 2023
Dado o contexto, a vidência de Diniz – que carimbou a frase “você vai fazer o gol do título!”, antes da entrada do atacante em campo, aos 34 minutos do segundo tempo – acaba se tornando um tanto previsível. Ao longo da semana do jogo, o próprio John Kennedy já havia feito a mesma profecia, em conversa com o empresário que repercutiu nas redes sociais.
Agora, com os holofotes voltados para si, especialmente do futebol europeu, o destino do craque junto ao Fluminense pode ficar cada vez mais incerto. Mas a verdade é que, em meio a tantas reviravoltas, o jovem escreveu o seu nome para sempre na memória afetiva do clube e provou que, com paciência e dedicação, histórias podem ser transformadas e render grandes conquistas.