
Foto: Michael Douglas/CSC
Profissional com vasta experiência na base alvinegra detalhou trato com jovens atletas em exclusiva ao ClickEsportivo
Há cinco anos vivendo de perto o trabalho realizado nas categorias de base do Ceará, Alison Henry pode dizer que conhece o processo de lidar com jovens jogadores em Porangabuçu. Do sub-17 ao sub-23, o treinador – que também já foi auxiliar – entendeu os diferentes processos que habitam em cada fase da formação. Hoje à frente do sub-20, aos 35 anos, ele avalia o trabalho realizado.
Em entrevista exclusiva ao Click Esportivo, Alison detalhou processos internos do Alvinegro quando o assunto é renovação. Das captações de nomes para as próprias categorias, com a integração de departamentos, à proximidade com Guto Ferreira, visando o profissional. O treinador analisou o atual momento com o sub-20, além de projetar frutos a serem colhidos.

Abaixo, confira entrevista completa com o técnico do sub-20 do Ceará:
ClickEsportivo – Você vive a base do Ceará desde 2019. Muitos jovens passaram por você, em várias categorias. O que você vê de diferencial no clube na preparação desses garotos?
Alison Henry: “Peguei o início do processo de reformulação da base do clube. Naquela época, mudaram a gestão e a coordenação técnica. Passaram vários atletas conosco. Acho que o grande diferencial da preparação aqui no Ceará é a estrutura aliada ao processo que é feito. Hoje, temos um suporte muito bom. São vários campos, alojamentos e departamentos. Tudo que um clube licenciado pela CBF precisa. A integração também é importante. Todos participam diretamente na formação desses atletas.”
ClickEsportivo – Depois do sub-17, lá no início, você também esteve no sub-23. Agora, trabalha com o sub-20. Para além do fator idade, quais as principais diferenças entre as categorias?
AH: “Acredito que as principais diferenças são os anseios e os momentos que os atletas vivem. A categoria sub-17, por exemplo, tem sua peculiaridade. São adolescentes que estão em uma fase que demanda muita atenção e proximidade, porque é um trabalho feito, também, com a família. São atletas com dúvidas, que miram se firmar, um contrato profissional. A gente tem que aliar a preparação técnica e física com o lado social.
Já no sub-20 isso muda. Todos têm um contrato. Então, as preocupações são outras. Um aumento salarial, a renovação, a projeção pensando no profissional. E a sub-23 é bastante peculiar, mesmo. São atletas que já estouraram a idade do sub-20, muitas vezes não estão sendo aproveitados na equipe de cima ou são jovens e precisam de rodagem.”
ClickEsportivo – Você trabalha com atletas que já chegaram a ser integrados ao profissional. Caso do Caio Rafael, por exemplo. Como se entende que o jogador está pronto para subir esse degrau?
AH: “Esse período de transição demanda bastante atenção. No caso, de ambos os departamentos. Da base e do profissional. Porque o atleta não tem uma receita. ‘Esse aqui está pronto para subir’. Não é assim.
Na verdade, os jogadores que recebem a oportunidade de serem integrados ao profissional são nomes que se destacam o suficiente. A partir disso, podem ser, de fato, integrados, ou escolhidos para passar um período no principal, participar dos processos e amadurecer em algumas questões.
Todas essas vivências são muito importantes. A rotina do profissional em si. Isso traz muitos ganhos para o atleta. E isso capacita ele. Não tem uma receita para ele estar pronto. É a sequência de vivências que vai fomentando a preparação de cada jogador.
ClickEsportivo – Como funciona a integração da comissão técnica do sub-20 com o profissional? Trocas de informações e indicações acontecem com frequência?
AH: “A relação é muito boa. O professor Guto Ferreira é um treinador que valoriza bastante a formação de atletas. Aproveita jogadores do clube, seja para observar ou, de fato, integrar ao grupo. A gente troca informações diretas. Temos reuniões para indicar destaques e um momento de entrega de relatórios, para que a gente possa municiar o máximo possível a comissão técnica do profissional. Não tem uma frequência exata, mas o contato é constante.”
ClickEsportivo – Como funciona o mapeamento de jovens para o próprio sub-20? Você participa diretamente do processo?
AH: “O mapeamento de jovens atletas acontece diretamente com o departamento de análise do clube. A gente tem analistas que captam essas informações, de jogadores não só do país como também de fora, formando um banco de dados. Mas não só eles fazem esse filtro. As comissões também participam. Elas, ao jogarem contra, indicam e selecionam nomes. A partir daí, em conjunto com o departamento, a filtragem acontece”
ClickEsportivo – Atualmente, vocês disputam o Cearense. Uma campanha sólida e de bons números, sobretudo como mandante. Qual o grande trunfo do Ceará neste bom momento vivido pelo sub-20?
AH: “Estamos muito bem, fazendo uma campanha muito boa. Estamos invictos e já classificados para as quartas do campeonato. A gente acredita que é um trabalho que vem evoluindo durante todos esses últimos sete meses.
Tive a oportunidade de assumir a categoria em dezembro do ano passado e a gente vem nessa construção diária. Os resultados foram melhorando, fizemos um Brasileiro competitivo e que nos trouxe aprendizados.
Temos uma equipe jovem, com uma base de 2004 e 2005 bem boa. Alguns de 2003, que são minoria. Mas acaba sendo bom, porque temos a oportunidade de maturar esses jogadores por mais tempo. E nosso grande trunfo é certamente o comprometimento desse grupo. Temos atletas que se entregam ao processo vivido aqui no clube. Isso potencializa o trabalho”
ClickEsportivo – A base do Ceará entregou bons zagueiros à equipe principal nos últimos anos. A que você atribui o sucesso na formação de atletas desta posição?
AH: “Temos formado bons zagueiros, de fato. De 2019 para 2020, o Lacerda e o Alan ascenderam ao profissional. Em seguida, pós-pandemia, conseguimos entregar o Marcos Victor e o Jefferson.
Depois, o David Ricardo, mais recente. Agora, temos outros bons zagueiros que em um futuro próximo serão certamente integrados, que são o Jhonatan e o Yago. Mas acho que o sucesso é o mesmo da formação de outras posições.
Temos um trabalho multidisciplinar voltado para a formação integral dos atletas. Acredito que os zagueiros têm sido mais aproveitados no profissional, na verdade. Mas a nossa capacidade de formar bons atletas está em todas as posições. É uma questão de tempo para que outros jogadores para além da defesa estejam em condições de figurarem no profissional.”
ClickEsportivo – Com a experiência na base do Ceará e o seu conhecimento dentro das categorias, como você projeta o futuro do clube na gestão de jovens talentos?
AH: “Estou nesse processo desde 2019, quando conseguimos entregar ao profissional 11 atletas. Alguns foram vendidos, outros continuaram. Muitos entregaram retorno desportivo, outros no financeiro. Nomes como o Gabriel Lacerda, o Rick, Marcos Victor, David Ricardo, André, Rafael Carvalheira… entre outros nomes que estão sendo vistos, até mesmo para a atual temporada. Mas antes também acontecia. Tivemos o Arthur Cabral, por exemplo.”
“Vejo que a gestão de jovens atletas no clube é feita de uma forma bem boa e as oportunidades têm aparecido. A gente tem conseguido entregar bastantes atletas para a equipe de cima. O Ceará Sporting Club, nos últimos anos, pôde aproveitar as suas categorias de base e isso é muito positivo para o andamento do clube.”