
Rodolpho Moreira em entrevista coletiva. Foto: Tiago Caldas/CNC
Rodolpho Moreira admitiu erros, falou sobre o departamento de futebol alvirrubro e destacou o foco no acesso à Série B
Uma das novidades do Náutico para a temporada 2023 foi a contratação de um diretor de futebol remunerado. Escolhido para a função, Rodolpho Moreira, de 27 anos, completou mais de 10 meses à frente do cargo.
Entre altos e baixos comuns do futebol, Rodolpho Moreira, em entrevista ao Click Esportivo, admitiu erros durante a temporada, falou sobre as últimas contratações, a formação do departamento de futebol e, claro, o foco no acesso à Série B.
A três rodadas do fim da primeira fase da Série C, o Náutico está no G-8, ocupando a sexta colocação com 25 pontos. O Timbu, contudo, ainda precisa garantir vaga no quadrangular nas três rodadas finais.
A equipe alvirrubra ainda terá pela frente Paysandu e Brusque, fora de casa, e fecha a primeira fase diante do São Bernardo, nos Aflitos.

Click Esportivo: Qual o balanço que você faz em 10 meses à frente do Náutico?
É uma atuação dentro da expectativa de ser o maior desafio da vida, de encontrar todos os momentos gargalos que, conjuntamente com a presidência, com o Léo junto comigo na diretoria, com o status do clube nessa união de força. Vamos atrás resolver e o tempo todo a tentativa de manter uma filosofia, de mediante os insucessos, sejam eles dentro de resultados individuais de partidas ou objetivo maiores, nos mantermos diante de uma metodologia de trabalho.
Passamos por uma eliminação vexatória para o Salgueiro. Mas conseguimos passar por aquilo sem onerar o passivo do clube, sem fazer uso de bode expiatório, sem dispensar ninguém, sem trazer nenhum tipo de peso para dentro do CT maior do que a derrota por si só já trazia. E desde então estamos dentro de uma campanha de série C com oscilações, mas estável, boa parte dentro do G8. Esse acesso é um acesso bastante desafiador pelo momento do clube, pelo nível de qualidade do campeonato de equipes extremamente equilibradas e niveladas, mas que a gente se vê na altura de realizar.
Click Esportivo: Você era uma voz ativa na comunidade alvirrubra antes de assumir o cargo de diretor. Como enxerga essa transição e essa mudança?
Essa diferença entre ser vidraça e ser pedra é muito difundida e você realmente passa a ter o entendimento da minucia quando você faz essa transição. Muitas vezes o questionamento que vem nesse momento é: ‘ali a de fora era muito fácil’. Desde o momento que eu fui convidado nas conversas internas até o momento que eu estou aqui não houve qualquer presunção no sentido de dizer que a nossa filosofia era infalível, porque não existe nenhum método infalível ou que a gente não erraria.
Julgo que o que a gente tem buscado fazer diferente é: como reagir aos momentos de insucesso? Se você pega o histórico, o Náutico nunca conseguiu o acesso no ano seguinte ao da queda, seja da A para B ou da B para C. A gente tá se propondo a fazer algo que é historicamente desafiador.
Click Esportivo: Como é o funcionamento da direção de futebol do Náutico no momento?
A gente tem o Eduardo Belo, que cumpre uma função muito importante na arrecadação de premiação para pagamento de bicho e outras situações. Ele não toma decisões, mas tem sido um baita parceiro junto com outros colaboradores que historicamente contribuem. A gente teve um incremento de folha recente, ultrapassando os R$ 600 mil e atualmente está em torno de R$ 700 mil.
O Gustavo (Cartaxo), executivo de futebol, é responsável por toda a parte de negociações hoje. Claro que a gente faz a definição do nome, dá um briefing financeiro e ele trata com o clube, com o jogador e com o empresário do atleta.
Eu e Léo (Portela) estamos focados em questões suprimento estrutural, passando para o financeiro do clubes questões para a suplementação. Algumas situações de viagens que a gente precisa fazer para garantir que a gente não tenha o olho focado somente no mercado, até porque isso por si só é uma parte importante do processo, mas não compreende aquilo que precisa ser feito num clube de futebol.
(Sobre o processo de contratações) são vários caminhos. O próprio presidente, por exemplo, foi um cara que passou cinco anos no futebol. Ele tem contatos que no primeiro momento buscam a ele, e aí ele passa para o futebol. Outros nomes são oferecidos, outros a gente prospecta pelo centro de análise. São situações que são avaliadas pelo corpo técnico do futebol e repassadas para o Fernando Marchiori, que analise.
É uma divisão de tarefas que está muito bem assimilada por parte de todos, a gente não nenhum tipo de atropelamento e acaba otimizando o tempo que gente tem aqui no dia a dia para que a gente consiga ser mais produtivo.
Click Esportivo: Qual a avaliação dos últimos reforços do Náutico? Não faltou um atacante de lado mais decisivo?
Os atletas trazidos estão dentro de um perfil de competição, de jogadores que tem em algumas momento uma qualidade técnica maior, né, por aquilo que a gente se propôs a investir nesses jogadores que vieram da Série B, mas que tem um nível de energia muito grande como é a Série C. A gente foi uma das equipes mais agressivas nessa reta final de mercado, trazendo majoritariamente atletas de uma divisão acima. Boa parte desses jogadores tendo uma minutagem expressiva ao longo do ano.
Não adianta eu trazer um jogador que esteja abaixo do que eu já tenho aqui, que não venha para somar no nível de competitividade que a gente busca, porque eu só vou estar enchendo a minha folha, só vou estar trazendo mais um jogador pra dividir a atenção de comissão técnica, então a gente segue aberto ao mercado, né? Mas a gente só vai operar daquilo que venha causar um diferencial A gente não tem nada quente, nada que esteja próximo de avançar. Nas últimas duas semanas foram feitas várias consultas e sondagens a jogadores de um nível acima não só do que a gente tem aqui, mas da Série C em geral.
Nosso ataque tem sido mais protagonista dentro dos jogos, mas é lógico que há muita margem de evolução para a gente ter um nível de definição melhor no último terço. E a gente entende que o mercado pode contribuir desse processo, mas a gente tem buscado alternativas com aquilo que a gente em mãos para nos dar um resultado no objetivo macro, que é o acesso.
(A janela fechada para as Séries A e B) tira concorrência, sem dúvida. Passa a ter menos dinheiro, porque são 20 times a menos no mercado contratando. A gente está atento, em contato com os agentes de mercados, não somente empresários, mas clubes, jogadores… todas as partes.

Click Esportivo: Qual a avaliação do trabalho de Fernando Marchiori no Náutico?
O Fernando vem sendo muito fiel aquilo que ele trouxe quando foi entrevistado pela diretoria de futebol e quando conversou com o presidente. É um cara muito focado em pequenos detalhes. Começa a preparação para um jogo com muita antecedência e ele entende que você ganha o jogo no jogo jogado, mas na semana de preparação.
Ele tem sido um cara que cobra muito para que a gente dê a ele a condição de cobrar o melhor dos atletas no campo. Esse nível de competitividade mais alto, uma agressividade maior, e acho que o grupo tem compreendido isso.
Click Esportivo: Internamente, qual a pontuação que vocês trabalham para se classificar para o quadrangular?
Acredito que 28 é uma possibilidade arriscada. Acredito que o último time do G-8 deve ter 28 ou, no máximo, 29 pontos, mas com 29 pontos já sendo uma pontuação segura e 39 absolutamente garantida. O campeonato começou fugindo de uma regra básica da Série C, que é de muitos empates. Foram poucos empates no início, mas nas últimas rodadas a gente vem vendo, além de muitos resultados apertados.
Internamente, algo que a gente precisa se apegar e entender, mas ao mesmo tempo não usar de muleta, é que nós somos uma equipe regular. Somos um dos poucos times que não perdeu dois jogos consecutivos na competição, então há uma constância de pontuação que é importante e é o o que define no final das contas. Nesse nível de equilíbrio, de novo volto a falar, é onde a gente enxerga que esses pontos como logística, estrutura, nutrição e outros aspectos podem e vêm fazendo a diferença.
Vinha conversando com o Fernando essa semana de que tudo que a gente faz passa a ter uma situação de gestão de grupo, mas agora muito mais de gestão de objetivo. Existe uma situação de que você gerir o grupo na terceira rodada e você gerir faltando quatro rodadas para o fim da primeira fase. Não temos mais que ter o melindre em alguns momentos.
Chegou um ponto em que a gente não pode se dar nenhuma exposição de erro, a gente tem que ser o mais assertivo possível, evitando tudo aquilo que a gente percebeu não funcionar para garantir que, no final do ano, a gente colha os frutos desse processo.
Click Esportivo: A gente sabe que tem eleição no fim do ano, mas você tem desejo de permanecer?
Me considero um funcionário do Náutico. Estou em uma função que, historicamente, mesmo estatutária, é política. Você costuma ser o diretor de determinado presidente, e hoje sou o diretor da gestão Diógenes Braga. Me sinto muito bem alinhado com o que foi passado pela presidência. Sou um funcionário do Náutico.
Não penso em nenhuma possibilidade de discutir continuidade ou projeto ou o que quer que seja sem antes a gente ter a nossa meta sacramentada, porque todas as energias estão no acesso Independentemente de ter vindo de uma arquibancada, algo que nunca neguei, a sequência vai ser dentro do futebol. Espero que entregando ao Náutico o acesso que, historicamente, não é concretizado no ano seguinte ao da queda.
Click Esportivo: Claro que vocês do futebol não estão cuidando disso no dia a dia, mas o que uma eventual SAF significaria para o Náutico no futebol futuramente?
A burocracia de virar uma SAF o clube já vem se preparando, já que está num processo que, como leigo no assunto, eu escuto. É um processo muito bem construído junto com a recuperação judicial, algo muito elogiado por quem tem a competência de avaliar isso. Mas acho que o que a gente precisa é, simultaneamente, se preparar filosoficamente para o que vem depois de uma SAF, se de fato for o caminho.
Uma eventual SAF acho que representa oportunidade para o Náutico, com o nível de investir mais na questão da gestão esportiva. Há compradores que terceirizam essa gestão, mas há compradores estratégicos. Então significa embarcar em processos já consolidados e que o clube recebe.
O que foi nos passado e que a gente busca cumprir é de que, para um momento do Náutico, seria de suma importância conduzir o futebol de uma maneira responsável e não deixar dívidas.